Não quero ser pessimista, mas nós ─ como indivíduos e como sociedade ─ temos muitos problemas críticos para enfrentar. Criamos um padrão de vida que é incompatível com os recursos do planeta, um padrão predatório. Nossa ideia de progresso é materialista, individualista e insaciável. Nos tornamos escravos das tecnologias que criamos para tornar nossas vidas mais fáceis. A maioria das coisas que chamamos de trabalho se resume ao preenchimento de modelos e repetições. Com poucas exceções, os processos se tornaram mais importantes do que as pessoas.
Os índices de violência, depressão e suicídio têm aumentado a medida que sentimos que nossas ações individuais e políticas são insignificantes na criação de uma verdadeira mudança. No entanto, parece que o raciocínio que estamos usando para resolver isso tudo é a principal fonte de nossos problemas. Todos nós temos o potencial para a criatividade. Mas parece que há um vírus que bloqueia nossa capacidade de alcançar transformações significativas em nossas casas, organizações e na sociedade.
Tratar nossos meta-agentes (ou agregados) como máquinas, não é apenas uma postura obsoleta, é também um erro. Sabemos que devemos tratá-los como organismos. O problema é que só sabemos pensar de forma mecânica. Fomos treinados para pensar da seguinte maneira: um departamento é mais importante que a empresa, as partes são mais importantes do que o todo. Fragmentamos tudo. Dividimos nosso conhecimento em áreas, disciplinas e profissões. Separamos, inclusive, a teoria da prática, como se fossem opostos. Esta fragmentação cega nos fez perder a visão do todo. Não fomos capazes de unir os fragmentos novamente, então entramos em uma crise de sentido.
Com os progressos nas áreas de ciência e tecnologia, criamos a falsa sensação de que sabíamos o que estávamos fazendo. Parece que não estávamos prontos para os benefícios e o poder da tecnologia. Todos os dias nos deparamos com novos jargões e teorias que prometem corrigir tudo. Nos tornamos viciados na ideia de que é necessário algo novo. Nosso raciocínio vai sempre em direção a “mais”: pensamos que para fazer mais, precisamos de mais pessoas; para fazer melhor, precisamos de mais tempo; e para fazer mais rapidamente, precisamos de mais estresse.
Estes sintomas indicam que nossos agregados e nossos organismos (casas, organizações, sociedade) estão doentes. E assim, precisamos de tratamento. Mas, antes de buscar o tratamento, não devemos olhar para as possíveis causas desses sintomas? Qual pode ser a causa principal de nosso pensamento ser tão errado?
Acredito que o físico teórico David Bohm acertou em cheio quando disse: “Nosso problema é que pensamos que o que pensamos é a realidade”. Para ele, nossos pensamentos funcionam como um sistema. Eles nos dizem que estão relatando a realidade exterior, mas, na verdade, estão criando sua própria versão da realidade. Assumem, por exemplo, a ideia de que nosso mundo é formado por nações, ou que uma organização é dividida em departamentos. Parece natural para nós, mas o conceito de nações e de departamentos é uma criação de nossos pensamentos. É algo que usamos para ensinar nossos filhos, é uma maneira de ver o mundo. Não é algo fundamentalmente real. Poderíamos nos aprofundar mais neste tema, mas um ponto final que gostaria de abordar é que não há uma saída fácil para esse estado de espírito. Temos de aprender a ter consciência do que nosso pensamento está tentando fazer conosco.
Vamos, então, explorar as questões relativas ao tratamento. Como podemos espalhar um antivírus para curar o dano feito por esta forma errada de pensar? Como podemos não apenas pensar de forma diferente, mas pensar melhor?. Acredito que devemos tentar um meio/ tratamento alternativo. Algo que envolva menos, não mais; que abranja apenas desaprender essas velhas formas de pensar. Um estágio de despertar, no qual pudéssemos refletir e abrir mão, o máximo possível, da ideia de controle, no qual, pudéssemos nos preocupar apenas com adaptação e energia distribuída; onde só pudéssemos considerar as partes ao desdobrar um todo coerente. Concordo que isso pode soar estranho para os líderes de hoje, mas esta é a lei do esforço reverso, um conceito familiar para grupos indígenas, encontrado nas artes marciais orientais, como o Aikido.
E nós, claro, vamos precisar de uma cultura para espalhar este antivírus. Cultura é um conceito abstrato, mas, na verdade, é uma espécie de cola que nos une. É o que dá sentido à sociedade e nos ajuda a entender um ao outro, é onde o significado é criado. Cultura vem da palavra latina “Cultura”, que está relacionada à noção de cultivo, alimentação. Portanto, quando nos concentramos no desenvolvimento de uma cultura saudável em nossas casas, empresas e na sociedade, as sementes crescem, tudo parece acontecer, as pessoas parecem saber o que deveriam fazer e encontram significado nas coisas. A palavra inovação também vem de uma palavra latina, “Innovatus”, que está relacionada ao conceito de mudança e renovação. Já está claro que podemos mudar tudo modificando a maneira como pensamos. Então, vamos pensar em uma direção melhor – Cultura Innovatus – uma direção que pode nos levar a maiores níveis de colaboração, criatividade e otimismo.